"Ataca-se e depois logo se vê - sendo que o ataque pode matar milhares de pessoas. Sempre foi difícil justificar a guerra preventiva, que agora faz parte da estratégia americana, como guerra justa. Depois do que se passou no Iraque, é essa doutrina inspirada pelos neoconservadores e oficialmente adoptada por George W. Bush que carece de urgente revisão." Francisco Sarsfield Cabral no DN
Conclusão bastante mais objectiva do que a visão de que "...todas as opções tinham (e têm) vantagens e custos e que as decisões têm muitas vezes de ser tomadas escolhendo a opção que se julga poder conduzir ao mal menor " que parece ter sido o mote da palestra de Miguel Monjardino, sendo que uma dessas opções tem precisamente a doutrina de "with us or against us", ou "with the terrorist or with us" ou ainda "with the evil or with us".
Fala-se da, em tese, validade de argumentação de ambas as posições, mas uma delas implica necessariamente um nível de intervencionismo social a grande escala, no meio de destruição de vidas e bens, com um resultado incerto e uma probabilidade elevada de poder produzir graves "unintended consequences": novo campo de batalha para o fundamentalismo, perigo de guerra civil, destabilização do regime Saudita e até dificultar os reformadores no Irão.
Profeta da desgraça? Talvez. Todos os liberais o são ao analisar a acção coerciva de um poder que decide unilateralmente coisas cujas consequências caiem sobre milhões de pessoas, nações e os seus Estados. E isso é válido mesmo quando se pretende "libertar" a dita acção coerciva de terceiros.
Mas como medir uma determinada dita coerção de um regime (por exemplo: o regime monárquico Saudita?) com o que poderá suceder-lhe (lembram-se da revolução francesa?). No Iraque, por exemplo, assistimos a um provável retrocesso dos tão protegidos direitos das mulheres no Afeganistão e ao progressivco desaparecimento de uma sociedade que era essencialmente secular e relativamente tolerante com diversas religiões.
Que seja hoje a direita dita liberal e dita conservadora a embarcar em aventuras de libertação e de combate a poderes estabelecidos é o que eu chamo uma verdadeira tragédia, um embuste, e em última análise, uma vitória do pensamento progressista de esquerda.
É certo que não existem respostas fáceis, “standard”, absolutas, no meio de escolhas que muitos acham que têm obrigatóriamente de ser feitas (e que em si é possível contestar que tenham de ser feitas), mas a preservação da autoridade moral do “ocidente” passa por não usar raciocínios, meios, que o aproximam do mal que combate.
É preciso redescobrir a estrita acção de legítima defesa em que está baseado o direito internacional, reconhecer as múltiplas formas de uma acção desenvolver-se para caminhos inesperados, a neutralidade em conflitos para os conter localmente, a prudência em participar ou envolver-se em disputas territoriais e étnicas historicamente complexas, a compreensão que o nos parece imutável corresponde apenas a um qualquer “status quo” (ex: países com fronteiras mal desenhadas e com apenas umas dezenas de anos), a responsabilidade última das populações locais em resolver ou proceder a mudanças sociais, de regime, etc. Que a necessidade de geo-estratégias para o domínio de recursos ou a sua exploração, numa espécie de neo-colonialismo global, não tem justificação económica.
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