quarta-feira, 18 de fevereiro de 2004

No End to War

O melhor e talvez mais importante texto de Pat Buchanan na The American Conservative, com a análise do "An End to Evil" de David Frum e Richard Perle, onde estes fazem a defesa da permanent War for permanent Peace.

É um texto longo, fica aqui uma pequena passagem:

Say the authors: “We must hunt down the individual terrorists before they kill our people or others .... We must deter all regimes that use terror as a weapon of state against anyone, American or not” [emphasis added].

Astonishing. The authors say America is responsible for defending everyone, everywhere from terror and deterring any and all regimes that might use terror —against anyone, anywhere on earth."

(...)

Calling their book a “manual for victory,” they declaim:

For us, terrorism remains the great evil of our time, and the war against this evil, our generation’s great cause. We do not believe that Americans are fighting this evil to minimize it or to manage it. We believe they are fighting to win—to end this evil before it kills again and on a genocidal scale. There is no middle way for Americans: It is victory or holocaust.

But no nation can “end evil.” Evil has existed since Cain rose up against his brother Abel and slew him. A propensity to evil can be found in every human heart. And if God accepts the existence of evil, how do Frum and Perle propose to “end” it? Nor can any nation “win the war on terror.” Terrorism is simply a term for the murder of non-combatants for political ends."

Leiam o artigo. Quanto a mim, hoje já pouco tenho a acrescentar sobre este assunto, principalmente quando ouço de pessoas que muito respeito e admiro (digo-o com sinceridade):

"Todo e qualquer ser humano tem o direito fundamental à vida, à liberdade e à participação política numa democracia. Saddam Hussein viola sistematicamente todos estes direitos dos iraquianos, logo o uso da força para acabar com o regime iraquiano é legítimo."

Este podia ser o lema de um grupo terrorista para derrubar Saddam, mas não é. Se fosse, o que diríamos, é um terrorismo a combater? Podíamos substituir Saddam por Salazar e perguntar o mesmo - Mas pior, podíamos perguntar se era legítimo ou até desejável (suspeito que sim para alguns) que uma Espanha democrática viesse nesses tempos "libertar" Portugal, destruir a sua infra-estrutura física (a água, electricidade, etc.) e administrativa, ocupar, e guiar-nos para um novo estágio de felicidade colectiva. E depois os resistentes que suspeito, iriam surgir, seriam terroristas, contra a democracia e até contra o mundo civilizado.

Podem dizer que Salazar não era Saddam, certamente que não, sou o primeiro a reconhecer vários favores que lhe ficamos a dever no meio dos seus erros.

Mas Saddam também está num Iraque desenhado pelos Ingleses (onde estes também combateram as tribos existentes), multi-étnico, com tendências separatistas, no meio de uma região sujeita ao extremismo islamico que sempre recusou (tal como o partido Baath na Sìria), com tolerância religiosa e igualdade com as mulheres. Saddam foi sanguinário como muitos outros ditadores o foram, e por isso deve ser condenado e vigiado. Nos últimos 10 anos náo o tinha sido muito. Até tinha destruido as ADM! Os iraquianos é que tinham de tratar dele, de preferência poupados a sanções que deram cabo da classe média e a puseram dependente de uma economia socialista de racionamento por uma década.

Na União Soviética não se assistiram a purgas vingativas por parte da sua população quando da sua queda por implosão. Nem na Alemanha de Leste. Só na Roménia assistimos ao julgamento e condenação do seu líder. Com que direito vamos então nós provocar milhares de vítimas civis, destruir e destabilizar uma sociedade (e que inclui sempre consequências não previstas), para apressar aquilo que é inevitável, perseguindo uma causa que não é nossa?

Quanto ao conflito israelita e palestiniano, lembrem-se por favor, quem declarou um “Estado Judaico” no meio de população árabe foi Israel (e acho muito bem, mas outra coisa é não perceber as consequências e o que foi necessário fazer para ser bem sucedido), quem depois expandiu territórios foi Israel (por defesa? talvez, mas que importa isso?), quem expulsou centenas de milhares de árabes das suas casas e propriedades foram os israelitas e sem direito de retorno (também acho bem, é inevitável, mas como digo, outra coisa é fazer de conta), quem ocupa territórios é Israel prestando-se a imagens que quase nos fazem lembrar o infame Guetto de Varsóvia, quem também teve culpas em alguns massacres quer na sua fundação (incluindo atentados contra tropas inglesas) quer mais tarde foram israelitas (em especial Sharon), quem morre num número quatro vezes superiores aos israelitas são os palestinianos cujo deplorável e condenável uso de atentados suicidas é proporcional à desproporção de meios numa disputa territorial e ao apoio cego e acrítico de muitos. E já o disse: o muro é bem capaz de ser a melhor ideia dos últimos 50 anos. Para ambos.

Agora, como os anti-pacifistas (que tratam os pacifistas como se de uma doença se tratasse) se admiram que muitos sejam apanhados na armadilha de acreditar que a violência é um recurso válido para resolver disputas é que me admira. Os árabes em especial olham à volta e vêm quem está no Afeganistão, no Iraque, com tropas na Arábia Saudita (ameaçando fomentar a queda da monarquia), ameaças permanentes à Síria e Irão, e digam lá, o que devem eles pensar? Será difícil imaginar um discurso de recrutamento de fundamentalistas?

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