O Cataláxia mostra-se escandalizado com o facto de haver liberais que admitam outras fontes de legitimidade política que não a das urnas. Trata-se de um liberal peculiar por quanto não conheço qualquer grande liberal clássico que considere a forma de representação democrática a única legítima no quadro de uma ordem liberal.
O Cataláxia continua a ignorar a tradição jurídica e política da qual emergiu o liberalismo e prefere fazer uma entediante digressão descritiva sobre os tipos de regimes democráticos contemporâneos (servindo-se do apoio "teórico" de... Duverger!). Please! O único argumento que tem para descredibilizar o pouco amor e mesmo a desconfiança que o liberalismo tradicionalmente nutriu pela democracia é o da suposta falta de "actualidade" das premissas da reflexão dos liberais que nos antecederam.
O Cataláxia pode ser mais um proponente da síntese entre liberalismo e democratismo, mas encontrará sempre pela frente liberais como eu que querem preservar a tradição liberal em estado puro. Como já disse anteriormente, isto não implica rejeitar a democracia, mas apenas a sua pretensão a ser a única detentora de legitimidade política sob o Céu.
Quanto à história do liberalismo português, pratica o Cataláxia a mesma simplificação que julga conveniente à sua elegia da democracia pura: nega a evidência de que o cartismo (e homens como Herculano) tivessem defendido realmente um regime misto, isto é, em que o elemento democrático fosse apenas um entre outros. Que a ideologia democrática pura se impôs entre nós, no século XIX, ao modelo constitucional consagrado na Carta, eu não tenho dúvidas; outra coisa é dizer que os homens que se bateram pela Carta não pugnavam realmente por um regime misto...
É que eu não gostaria de ser obrigado a cometer a indelicadeza de convidar o Cataláxia a ler, por exemplo, Herculano ou a Carta Constitucional...
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