Na sua coluna do Expresso, irritado com a sugestão de Francisco Sarsfield Cabral em recomendar a leitura de Hayek e Burke aos (Neo) Conservadores Americanos comete alguns erros de palmatória como aliás já é seu costume (estou por exemplo a lembrar-me de ter acabado um artigo dizendo que o Estado serve especialmente para proteger o individuo de si próprio - pois eu pensei que para uma sensibilidade conservadora essa é a tarefa da religião).
1) Arruma com a sugestão da leitura de Hayek num ápice evocando o seu famoso texto "Porque não sou um Conservador", mas esquece-se que Hayek falava, em termos gerais, do conservadorismo como uma força imobilizadora e não no tradicional conservadorismo americano muito desconfiado da acção do Estado e até algo anti-state, fundado numa revolução pela Secessão do Império Britânco a favor duma república ultra-liberal ou até libertarian.
2) Esquece-se também que foi Hayek um dos inspiradores da revolução conservadora-liberal de Tatcher e Reagan.
3) E da insistência em Hayek referir como somos limitados no nosso conhecimento e na dificuldade em podermos arrogar-nos em saber o que é melhor para a sociedade e ainda menos para outras sociedades que não a nossa.
4) Depois fala de Burke e a sua análise da Revolução Francesa que repudiava e até combatia como um mal para a civilização (diga-se que o que ficou por fazer por esta e Napoleão, foi acabado na Grande Guerra – as monarquias desapareceram e substituídas por utopias republicanas à direita e esquerda). E fala dela querendo de alguma maneira provar que a actual estratégia americana reaviva esse combate.
5) Mas JPC aqui, espalha-se ao comprido. Burke que em tudo pode ser identificado como um conservador-liberal no sentido americano e não do imobilismo conservador de que Hayel falava, combatia o espírito jacobino de quem quer reconstruir uma nova realidade social com o mote de “humanistas com um guilhotina”. Napoleão quis transformar a Europa, iluminando-a com um novo espírito mais racionalista, com mais direitos, e para isso a quis conquistar e mudar regimes.
6) Pois tenho uma notícia para si, na base do “nation-building”, da “liberation”, da imposição de valores universais, está precisamente esse espírito jacobino de querer exportar a democracia e transformar outras culturas, como se isso em si, fosse a solução para resolver questões concretas de segurança (muitas delas já de si causadas por esse espirito intervencionista).
7) Na verdade, são os neo-jacobinos que hoje estão aos comandos, tendo uma plateia de supostos conservadores a aplaudi-los.
Recomendo uma leitura: The Ideology of American Empire, by Claes G. Ryn
“(…) There are similarities between the advocates of the ideology of
American empire and the ideologues who inspired and led the French
Revolution of 1789. The Jacobins, too, claimed to represent universal
principles, which they summed up in the slogan ‘‘liberte´, e´galite´, et fraternite´.’’
The dominant Jacobins also wanted greater economic freedom. They thought
of themselves as fighting on the side of good against evil and called themselves
‘‘the virtuous.’’ They wanted a world much different from the one they had
inherited. The result was protracted war and turbulence in Europe and
elsewhere. Those who embody the Jacobin spirit today in America have
explicitly global ambitions. It is crucial to understand what they believe, for
potentially they have the military might of the United States at their complete
disposal.(…)
Claes G. Ryn is professor of politics at the Catholic University of America and chairman of the National Humanities Institute. He is editor of Humanitas and author of numerous books, including Unity Through Diversity: On Cultivating Humanity’s Higher Ground (Beijing University, 2000) and Will, Imagination and Reason: Babbitt, Croce and the Problem of Reality (2nd ed., Transaction, 1997). This article is adapted from a chapter in his America the Virtuous: The Crisis of Democracy and the Quest for Empire (forthcoming, Transaction 2003).
Sem comentários:
Enviar um comentário