quarta-feira, 24 de março de 2004

JMF realista?

Mais Um Crime, Por JOSÉ MANUEL FERNANDES

"A maioria dos israelitas apoiou o assassinato do xeque Ahmed Yassin - mesmo quando a maioria dos israelitas assume na mesma sondagem que essa morte pode conduzir a um aumento dos atentados suicidas contra Israel. Este é apenas um aspecto da irracionalidade que alimenta a espiral de violência no Médio Oriente. Ela também é alimentada pela política de terra queimada de Ariel Sharon e pela cobardia de grande parte da oposição de esquerda (o próprio Barak, anterior primeiro-ministro trabalhista, também apoiou a execução do líder do Hamas). Assim como era alimentada pela pregação extremista de Ahmed Yassin, pelo recrutamento dos exércitos de suicidas, pela vulgarização de uma cultura de morte pelo martírio nos territórios e pela impotência, senão cumplicidade, de Arafat face aos sectores mais extremistas da sociedade palestiniana.

O acto decidido pelo governo de Israel é um crime: chamem-se as coisas pelos nomes. E é um crime estúpido: a longa experiência anterior de assassinatos selectivos mostra que estes não são solução para a violência nem travam os atentados suicidas. Pior: trata-se de uma estupidez perigosa, explosiva mesmo, porque o xeque Yassin não era apenas mais um líder de uma organização terrorista, era também um líder religioso e espiritual com prestígio muito para além das fronteiras da Palestina. A forma bárbara como foi morto não tocou apenas os palestinianos dos territórios, levando-os a saírem para a rua e a clamarem vingança, não incentivou apenas os fanáticos do Hamas a prometerem sangue e mais sangue: como ondas de choque, a revolta propagou-se a grande parte do mundo árabe e tornou muito mais complicados os esforços para estabilizar a região. Desde segunda-feira que não é apenas o "caminho para a paz" que passou de moribundo a morto: também a iniciativa pela democracia que os Estados Unidos pretendiam promover, designadamente na cimeira árabe de Tunes marcada para esta semana, entrou em estado comatoso."

Nota: Outras leituras estratégicas passam por uma tentativa de fazerem os grupos palestinianos, a quente, passarem a atacar outros objectivos que não os israelitas, fazer com que o resto da população árabe noutros países se envolva também (já se viram reacções no Iraque), e mais cedo ou mais tarde se envolva os EUA e outros directamente "aliados" no combate directo nos territórios ocupados, depois o Libano, a Siria, etc. Ou seja, conseguir que todo o mundo esteja em guerra contra árabes e muçulmanos por causa de uns quantos m2. De qualquer forma, já não falta muito.

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