sexta-feira, 26 de março de 2004

Re: As encíclicas papais, liberais?!

Meus caros, se querem fazer campeonatos de purismo liberal, verdadeiramente, só quem, como eu, defende a propriedade privada (e o homesteading principle) e o contrato livre em toda a sua extensão o pode reclamar, reconhecendo no anarco-capitalismo "a" Teoria Geral da Propriedade e Contrato e na "Natural Order" o fim último da filosofia política (acabando com a necessidade da política em si, definida como o domínio extra-contratual de uns sobre os outros, seja pela "mob rule" ou pela ditadura unilateral).

As encíclicas contêm muito da fundamentação moral para o capitalismo, o reconhecimento da necessidade do governo do "bem comum" existe não só na Igreja Católica como no protestantismo ou em qualquer outra religião. Em todas elas, existem autores mais sensíveis ao direito natural e recusando o papel do governo centralizado, outros que não. O "virus" redistribucionista é comum a todos. Nas encíclicas transparecem as várias sensibilidades mas sem colocar como tronco central uma justificação do socialismo como método económico em si, mas sim na responsabilidade pela ajuda a quem precisa pelo qual o Estado é dado como um meio possível.

Até Hayek falava no safety-net e na educação pública. (Churchill instituiu o socialismo em Inglaterra, tal como Roosevelt nos EUA e ambos são colocados em altares por muitos liberais - ou será pela morte e destruição?)

Mises: "It is noteworthy to remember that British socialism was not an achievement of Mr. Atlee's Labor Government, but of the war cabinet of Mr. Winston Churchill. What the Labor Party did was not the establishment of socialism in a free country, but retaining socialism as it had developed during the war and in the post-war period."

Tendo em conta o tom dos comentários que li, só me posso lembrar do que diz Pat Buchanan (Católico): o anti-catolicismo é o anti-semitismo dos intelectuais. E foi a propriedade da Igreja que foi violentada inúmeras vezes por liberais.

Os ataques à Igreja, uma das últimas instituições não racionalistas (e não democráticas), são constantes e de todo o lado, ultimamente também da direita, especialmente da nova direita. São um alvo fácil, como o foi a instituição da monarquia pelos republicanos, em que usou os affairs pessoais dos actores como pedra de arremesso contra as suas qualidades como instituição social espontânea e não coerciva. Na verdade a Igreja Católica é mais velha organização estruturado do mundo, com mais "funcionários", mais extensa geograficamente, melhor organizada. Hierarquizada, com um direito próprio, mas com a capacidade de circulação de informação mais horizontal, como nos Concílios.

Quanto aos comentários que vi sobre o aborto, porque não existir quem na Igreja pense que quem mata seja sujeito a excomunhão? o Aborto é o assassínio de um ser vivo, seja qual for a nossa opinião sobre as consequências penais. Já que a maioria democrática quer impor a todas as comunidades, a liberdade de abortar, será que querem impor também com que princípios é que a Igreja se auto-regula? Por acaso a excomunhão é um pena de prisão?

PS: E já agora, não posso deixar de me lembrar também da tentativa em fazer o Vaticano mudar, reinterpretar a sua doutrina de Guerra Justa, para acomodar a consciência de estatismo militaristo-racionalista de muitos. Pois o Vaticano e o Papa estavam certos, e a violência vai gerar violência.

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