quinta-feira, 18 de março de 2004

O pobre que agradece

O optimismo pelo nation-building, aqui por causa de uma sondagem que até não é assim não convincente como isso. Temos de descontar as razões pelas más condições de vida no Iraque antes (no Golfo I destruiu-se a sua infraestrutura básica, depois as sanções e bombardeamentos constantes) e porque um ano atrás os Iraquianos viviam ameaçados pela incerteza das consequências da guerra (onde os collareral damages acabaram por ser expressivos). Depois teríamos de ter em conta as diferentes expectativas e opiniões entre Kurdos, Sunitas, Shiitas, etc.

Seja como for, as razões para um Liberal combater a lógica de um Grande Estado Social, não é porque a maioria (que na sondagem nem é muito expressiva) está convencida que receber “bens” oferecidos por outros (no caso: outros mudarem o regime que devia ser mudado por si, outros pagarem a reconstrução daquilo que destruíram, outros permitirem que os shiitas passem ao controlo democrático, outros darem esperança para um Kurdistão independente) é uma coisa boa – porque isso será sempre (ou por norma) para quem o recebe.

Nem tudo é mau quando o Império (mesmo os piores deles, quanto mais os "bons") impõe a sua vontade, a população, mais preocupada com o seu dia a dia, do que com patriotismos, nacionalismos, idealismos, etc., pode ter várias razões de agradecimento.

As populações de muitas partes do mundo (no presente e no passado) até mostram muitas vezes não se incomodar terrivelmente com ocupações mesmo quando não prometem a democracia.

Na verdade, eu até diria que, mesmo quando subjugados, a maioria dums população, até tem um espírito bastante pacifista de que "o tempo resolverá o assunto e eu tenho é que cuidar de mim", e quem sou eu para dizer que não terão razão - nunca nenhuma conquista ou tirania acabou por ser eterna na história e temos o caso Soviéticos de desabamento por dentro (e sem perseguições internas aos "tiranos").

E esta, em última análise é um dos argumentos principais para não ir combater as tiranias dos outros. É que são sempre uma minoria, aqueles que pegam em armas e põe de lado os interesses individuais, da sua família e da sua comunidade local, para lutar (e isso talvez constitua o verdadeiro egoismo) por elevados princípios.

E assim, o pobre agradece e faz bem. É quem oferece que deve saber o que está em jogo (se é legitimo usar os recursos colectados a um determinado conjunto de contribuintes para fazer o bem alheio, nos efeitos a médio e longo prazo, nos collateral damages e nas unintended consequences, etc.).

O texto de JMF, Mais Sangue em Bagdad
"Para a Al-Qaeda esta é uma corrida contra o tempo pois a situação no país não tem cessado de melhorar. Ainda anteontem ficámos também a conhecer os resultados de uma grande sondagem realizada pela Universidade de Oxford e encomendada por entidades que não se contaram entre os apoiantes da intervenção militar, como a BBC. Segundo essa sondagem, de que o PÚBLICO de ontem já dava notícia, 72 por cento dos iraquianos desejam a democracia para o seu país, 70 por cento acreditam que as coisas estão a correr bem nas suas vidas, sendo que 56,5 por cento acham mesmo que as suas vidas estão agora melhor ou muito melhor do que há um ano, antes da invasão. Mais: apesar dos atentados, 53,6 por cento dos inquiridos considera que a situação de segurança é melhor que no tempo de Saddam, contra 28,4 por cento que acham que é pior. Uma maioria também acha que há mais empregos do que há um ano, que melhorou o serviço de infraestruturas básicas como o fornecimento de electricidade ou de água potável, que há melhores serviços de saúde, melhor acesso à educação, mais produtos nos mercados e até que as suas famílias estão mais protegidas dos criminosos comuns. Mais ainda: 64,4 por cento acha que a primeira prioridade é continuar a restabelecer condições de segurança, sendo que só 3,3 por cento acham que a primeira prioridade é a devolução do poder aos iraquianos.

Podia continuar com muito mais números sobre o que o povo iraquiano pensa, mas talvez isso não tenha interesse. Afinal ainda ontem Zapatero voltou a proclamar que "a ocupação é um fiasco". Pois é. Só é pena os "ocupados" serem de opinião diferente."

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