quarta-feira, 21 de janeiro de 2004

'We're changing world for the better' says Bush

E acrescenta

"The killing fields of Iraq where hundreds of thousands of men, women, and children vanished into the sands would still be known only to the killers. For all who love freedom and peace, the world without Saddam Hussein's regime is a better and safer place."

Sejam quais forem os crimes de Saddam (a que aos próprios iraquianos cabia combater), estes tiveram lugar no tempo de boas relações e luta comum com outro mal do mundo, na época: Khomeny (à falta do argumento da ameaça militar, a direita recorre a argumentos de esquerda), ele próprio o resultado da oposição a um déspota (Palhevi) colocado num golpe de estado apoiado pela CIA contra um presidente eleito democraticamente no Irão.

Note-se (que depois das abusivas comparações a Hitler e Estaline) o uso do termo de campos de morte de Pol-Pot, cujos “killing fields” acabaram graças à invasão do Cambodja pelos Vietnamitas comunistas, mas cuja tragédia (no Cambodja) poderá apenas ter tido lugar pela queda do Príncipe do Cambodja fragilizado pelo conflito que incluiu bombardeamentos secretos no seu país.

O Bem que fica no mundo, enquanto persiste a presença nos Balcâs, Afeganistão e Iraque, é para já efémero (o terrorismo foi derrotado? não, foi alimentado) e sem qualquer consistência, porque ficar ou não um "mundo melhor" é algo que é historicamente difícil de determinar a não ser numa constatação a longo prazo, como o provaram as “unintended consequences” do pós WWII com domínio da União Soviética e do Marxismo em geral após a Segunda Guerra.

Churchill, em fim de carreira, combateu Hitler pelo seu Império Britânico, mas também pela sua anti-germanofilia de sempre (ditada pela rivalidade a uma Alemanha sem colónias a tentar consegui-las numa altura onde até os EUA anexaram Cuba e as Filipinas à Coroa Espanhola, promoveram o separatismo do Panamá, etc.), e que contribuiu para o desastre da Grande Guerra, onde todos os outros impérios monárquicos caíram para darem lugar a Repúblicas fascistas e comunistas, com a excepção do aumento nos 20 e 30 do Império Britânico, nomeadamente acrescentando ao Egipto, a Palestina, o Iraque e o Afeganistão (nestes dois últimos, com as revoltas das tribos a serem bombardeadas nos anos 20 e 30, existindo até a recomendação por Churchill para o uso de gás).

Na procura do bem e no calculismo frio, é depois "obrigado" a ter Estaline como aliado para combater o outro mal, quando provavelmente, ambos (USSR e Hitler) podiam ter-se mutuamente debilitado e até destruído, ficando o Mundo livre de duas tiranias com muito pouca destruição.

O que ficou, foi mesmo o fim do seu Império (ninguém põe em causa que era um arqui-colonialista, não é uma crítica em si, é uma constatação), o declínio da Inglaterra mergulhado no socialismo, e a subida do marxismo no Leste mas também em todo o Ocidente. Será isso que tinha desejado? O mundo terá ficado melhor depois? O mal que se combateu na WWII não foi por si induzido pela má condução da WWI?

E depois da WWII: o socialismo progressista no Ocidente a quase vacilarem para o comunismo, as descolonizações aceleradas e forçadas por marxistas no resto do mundo, a Guerra Fria, tudo resultado da aliança com Estaline (já depois de os piores crimes terem sido cometidos por este), o caminho que ficou aberto a Mao Tse Tung para tornar a China comunista (e depois a Coreia e Vietname) por fazerem questão na saída do Japão da Manchúria (e que era estratégico para a protecção contra Estaline – o Japão e a Rússia tinham estado em Guerra em 1905) e que esteve na origem no conflito com os EUA, etc.

Foi o bem que se fez ou em cada passo um mal que se criou? Comparado com que realidade alternativa?

Precisamos de mais pessimismo e uma análise mais ponderada da história, principalmente na direita que hoje passou a acreditar em mudanças de regime e no intervencionismo social, que hoje passou a usar os termos "democracia", "direitos humanos" como bandeiras para comprometer a defesa nacional, bens e vidas, em busca de um internacionalismo pelo “bem” no mundo, sem pudor nem temor pelas “unintended consequences” que põe em perigo e a prazo, o interesse nacional.

No século 20, no espaço de 25 anos, toda a civilização europeia foi destruída (as tradições, costumes, a sua ordem natural) – esta dominava culturalmente e economicamente todos os Continentes, mas depois ficou à mercê das grandes utopias, incluindo já no pós WWII, a da social-democracia alargada. Os monárquicos perguntam-se como foi possível, mas a resposta está em conflitos a mais e prudência a menos.

Os Taliban, seriam hiper-conservadores, mas a sua subida ao poder criou ordem num caos de guerra civil interminável e dependência da produção de ópio que tinham conseguido combater (por isso, receberam reconhecimento e ajuda financeira dos EUA até meses antes). A presença de Bin Laden tinha a boa explicação de ser um herói nacional na ajuda ao combate contra os soviéticos. Ao misturar o combate a Bin Laden com uma mudança de regime, torna a apresença inevitável por muitos e bons anos no Afeganistão, o combate a todos que não gostam de ver o país ocupado para implementar direitos sociais "ocidentais". No Iraque, ainda é mais grave porque a estabilidade de um regime democrático multi-étnico é duvidosa, tendo-se criado um campo de batalha para unir fundamentalistas terroristas a nacionalistas iraquianos. E ainda querem ir para a Síria, Arábia Saudita, etc.

O mundo que Churchill gostava desapareceu para sempre com a sua própria contribuição. Irá Bush, na sua missão, também contribuir a prazo, para o fim da república? Crescimento do Estado, Socialismo e Guerra, andam sempre de mãos dadas. Os Liberais deviam saber isso.

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