"Nesse período da viragem do ano para 1904, a "Illustrated London News" regozijava-se com o restabelecimento da saúde do Kaiser alemão, reaparecido em público na Ópera de Berlim e que, dez anos depois, reapareceria novamente para desencadear a terrível guerra de 1914/18, em que uma geração de jovens ingleses seria massacrada pelos canhões Krupp nas trincheiras da França e da Flandres, sacrificada ao mais fútil dos motivos políticos e à mais estúpida estratégia de que a história militar guarda registo.
Lá longe, no Oriente, o Japão preparava-se para a guerra com a Rússia, que haveria de conduzir à derrocada do regime dos czares e instituir o império do Sol Nascente como única potência dominante no Pacífico, até desembocar, quase quarenta anos depois, no episódio decisivo de Pearl Harbour. (...)
Na América Central, o Panamá acabava de declarar a sua secessão da Colômbia, instigado pelos americanos, cujo Presidente, Theodore Roosevelt, preparava a construção do canal e o direito de suserania americano, que só teve fim há meia dúzia de anos.
É isto que a história, sobretudo quando lida a uma distância "mediana", tem de fascinante: a compreensão da forma como as coisas se formaram e evoluíram, como germinaram as alianças e os ódios, como se compôs a geografia e nasceram os nacionalismos, como se sufocaram as revoltas que depois renascem, quem estava então certo e quem estava fora da razão. Quando olhamos as coisas a cem anos de distância, percebemos como foi que tudo aconteceu desde então e porquê. E, inevitavelmente, somos assaltados pela pergunta: "E se tem sido diferente? Se o arquiduque da Áustria não tem sido morto em Sarajevo? Se o governo nipónico, que falhou as negociações de paz com a Rússia, não tem sido demitido pelo imperador, no Natal de 1903, e substituído por um gabinete de guerra? Se o governo suíço não tem autorizado Lenine a partir num comboio especial para S. Petersburgo?"
Nota:
MST parece estar a intuir o que se torna claro na história do século 20, pequenos passos, pequenos intervencionismos, pequenas acções de construção de cada um do seu império de influência (a Inglaterra tinha o maior, os outros queriam o seu pedaço)...tudo em direcção a um desastre que levou a duas guerras mundiais, o fascismo, o comunismo, a social democracia. Em poucas palavras, um retrocesso em termos de liberdade e respeito pela propriedade que ainda perdura. Como evitar que volte a acontecer, enquanto tentamos desmantelar os mitos da social-democracia?
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